O sorriso

Lisboa de luz aberta, limpa e doce, que em outros tempos mostraste, a empatia, a todos os que te visitaram. Continuo a olhar para ti com a esperança dos sorrisos que já me roubaste. Estás diferente e camaleónica, como só tu consegues ser. Noto-te despida, para um dia te vestires novamente, das tuas curvas e silhuetas fabricadas pelos trilhos do eléctrico.

Já passou bastante tempo desde que te vi pela última vez, cheia de gentes dos sete cantos do mundo. Lá estás tu agora, bela e sinuosa, de sorriso mascarado. Era algo tão simples e adquirido. Um simples sorriso que em cada esquina espreitava. Chamam-te cidade triste, cidade alegre. Para mim sempre foste vida de sensações e descoberta de emoções. Hoje noto-te mais tímida mas ainda e sempre Lisboa.

Entro pela porta marítima comercial. A tua praça, tão vistosa e geométrica rapidamente se enche de uns movimentos subtis, daqueles que não têm medo do medo. Olho para as pessoas e vejo muitas camufladas em máscaras e de olhar escondido, outras de máscara mas de olhar alegre e ainda outras livres de todas as máscaras que nos querem colocar.

O que é um sorriso agora? Uma expressão apenas mostrada para aqueles com quem dividimos o tecto? Andar por Lisboa, a mascarar um sorriso é como não sorrir. Olho para aqueles que me conhecem e avanço com um sorriso rasgado que tantas vezes precisamos de partilhar. Os amigos do eléctrico escondem-nos cirurgicamente, muito embora, a expressão do seu olhar consiga nos fazer sentir o seu sorriso.

Subo a colina e entro na carismática Graça. Não sei se é pelo seu nome, nem tão pouco pelas pessoas que aqui vivem, mas o que é certo, é que o espirito deste bairro de Lisboa faz honras ao nome. É neste pequeno largo, que vejo muitos sorrisos, descomprometidos de medo.

Lisboa é empática pelas pessoas que nela vivem. A sua simpatia é de tal forma emblemática que qualquer um sente essa energia positiva. São os seus sorrisos acolhedores que transformam o medo em colo, a dor em amor, o vazio apenas num momento e a paz, essa que encontramos no miradouro da Graça, mesmo ali ao lado.

Nunca me habituarei a ver estes novos “sorrisos” ou forma de sorrir. Para mim um sorriso será sempre espontâneo e aquilo que de mais autêntico partilhamos com os outros. Sorrir livremente ainda é assim possível nem que para isso abracemos um dos bonitos verdes parques que tantas vezes encontramos nas ruas da cidade.

Os tempos estão diferentes, as pessoas também, mas o sorriso, é aquela graça, que sempre se mantém.

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