A Graça

Passo pelo centro de Lisboa em busca da avenida. Desço vias espaçadas de gente. Cruzo com o pouco normal e não me habituo ao novo mundo sem sorriso. Visto o papel da diferença e discordo de comportamentos excessivos. É Agosto e a animação da cidade fica ausente no vislumbre de um rio de nostalgia por outros tempos normais.

O eléctrico enche-se do seu ritmo sinuoso e curvilíneo. Aqui, a animação dos visitantes continua numa pose de selfies por cada colina. Assim vamos. A fotografia manifesta um desejo autêntico de um striptease facial que possa desvendar o sorriso de cada um de nós. A metamorfose destas ruas assemelha-se ao processo de uma borboleta que esconde as suas lindas asas de cores vibrantes e alegres.

Sobe pelos carris barulhentos de metal. O seu apito vai avisando, por entre as ruas apertadinhas, os visitantes da nossa cidade. Chego ao largo e inspiro. Aqui sinto uma Lisboa mais livre. Subo até ao topo e como uma rainha no seu castelo, vislumbro um dos lugares mais elevados da cidade. Neste quadro pintado vislumbro a colina do castelo pronunciada, lugar tão antigo. O rio ao fundo, numa linha horizontal escrita por réguas milimétricamente dispostas. A ponte, lá ao longe, vermelha. A matriz de prédios, hotéis e palácios que fazem check mate à colina do castelo. E Lisboa sorri.

Ali ao lado, vejo crianças a brincar distraídas pelos sons da natureza. As pessoas sorriem e vejo-lhes esse pormenor, uma raridade que agora se apresenta na nossa cidade. Não aqui. Nesta simpatia natural de gentes familiares, vamos vendo em consciência, sorrisos espalhados pelas ruas desta Graça. Já tinha engraçado com esta Graça pelos caminhos da fotografia de rua, mas é agora que vejo, sinto e ouço uma nova energia que este bairro mostra a Lisboa. Não imagino Lisboa sem a empatia destes sorrisos.

A Graça rouba-me mais um e outro e outro. São os sorrisos incógnitos das pessoas que andam na azáfama das conversas que se ouvem pelas ruas deste bairro. Apesar das mudanças irrevogáveis deste novo mundo, haverá sempre a possibilidade de construir novas formas de sorrir e manter o que de único há em nós.
A Graça no cume do seu espírito bairrista manteve-se e mantém-se sempre fiel ao seu sorriso.

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