O casal que anda nas Nuvens

Entrelaço-me nela, na companheira de viagens infinitas que me mostra tantas vezes o assunto a fotografar. Hoje, num dia de muito sol, onde os passarinhos entoam nas janelas, vejo-me dividida por onde começar. Lisboa, de tantos encontros e desencontros mostra-se complexa, pois a sua enorme diversidade dispersa qualquer fotógrafo focado. São tantos os lugares, os motivos, as cores e sensações que sentimos, que queremos estar em vários locais na mesma fracção de segundo, como se isso fosse possível. Somente na imaginação, reside esta arte de fazer zapping de locais,muito embora estejamos nós por vários minutos a olhar o mesmo sítio. Quem me dera fotografar a imaginação. Certamente uma nova Lisboa daí sairia.

A luz dourada já está quase a chegar. A câmera, sintonizada na abertura e nos seus segundos perfeitos, encontra a luz que pretendo captar. Sigo caminho.

Encontro-a, altiva e elegante, nas suas histórias de conquistas, ela a rainha de todas as descobertas que se assume no rio com máxima imponência – A Torre de Belém. Hoje especialmente, vê-se acompanhada de uma enorme multidão que em jeito de descanso, se senta para admirar a contra luz de silhuetas que por ali vão passando.

Contorno as curvas das sombras e sigo pelo caminho que se mostra aberto a conduzir-me. Passo por um espelho de água que transmite uma calma tranquilamente desenhada por aquilo que em outros tempos foram momentos de turbulência, de dificuldade. Aqui são escritos os nomes, de todos aqueles que combateram pela pátria, uma homenagem sentida.

Sigo ao encontro de um edifício emblemático e moderno, que com a sua cor branca quadriculada, se mostra de composição perfeita para aqui começar, nesta busca pelas curvas e linhas onde me decidi inspirar para um trabalho de fotografia de rua entregar. Presto atenção ao edifício, fotografo em ângulos picados, próximos, com muita profundidade e exactidão.

Ao olhar em frente percebo, que um grupo de pessoas ali estão, no final deste tule branco, no momento decisivo em que o sol diz-nos adeus e cria no cruzamento do céu com o mar, uma tela pintada com cores quentes, linhas e curvas em forma de coração. Neste cenário, que nunca vi anteriormente, ali naquele lugar onde a arquitectura é o pilar das composições fotográficas, olhei novamente e encontrei o oposto.

Eram dois. Pessoas apaixonadas que ficavam perfeitas naquele cenário de cores que se fundem, linhas que se encontram, curvas que se formam e corações criados pelas nuvens que existem no céu. Eu, que estava acompanhada por outro fotógrafo, este também abismado e ainda com tantos cliques para dar, entoámos simultaneamente o privilégio que é estar aqui, neste momento Lisboeta.

O casal ali continuou por vários minutos a olhar-se, gostar-se, falar-se e a amar-se. Eu era apenas uma expectadora de um momento que falava por si. Poderia ser um cenário para um pedido de casamento. Poderia ser apenas uma celebração entre amigos. Poderia ser tantas outras coisas que esta nossa cidade tantas vezes nos dá. Carreguei o botão em disparo contínuo para que nem uma gaivota daquele cenário pudesse escapar. Queria ter a possibilidade de manter este momento intocável e voltar a ele como se hoje tivesse acontecido, aqui, na minha cidade.

Locais presentes no artigo:

Instituição_ Fundação Champalimaud

Monumento_ Torre de Belém

Monumento_ Museu do Combatente

Texto escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico

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