Vou ao centro de Lisboa, neste passeio sem destino, vou percorrendo sempre em frente as ruas da cidade. Apanho o movimentado eléctrico. Está cheio de gente. Gente que se diverte com o menino querido de Lisboa. O amarelinho, que por vezes é verde ou vermelho, tem um som que parece que nos remonta a um parque de diversões pitoresco, onde queremos levar todos os objectos nele presentes.
Aproximo-me da Praça do Comércio. Saio e atravesso-a na esperança de encontrar um momento decisivo. Hoje o dia está solarengo, muita movimentação nas ruas, muitos artistas e muita gente a querer sentir esta boa energia de Lisboa.
Fico no Cais das Colunas. Este cais que se abre ao Rio e onde os artistas de rua se encontram. Estamos a ouvir um concerto informal de música Africana. Numa roda de pessoas, ao centro, encontra-se uma cantora que com o seu carisma vai cativando portugueses e estrangeiros. As pessoas começam a dançar e eu a fotografar.
Afasto-me e vejo um fumo branco que envolve todo este ambiente. Um cheirinho a quentinho das nossas boas castanhas. Perco-me em minutos que se transformam em horas. Não paro de fotografar este casal de trabalhadores que com a maior das dedicações vão vendendo saquinhos de castanhas a todos aqueles que por ali passam. O ambiente é tão verdadeiro que sinto que tenho de mostrar aquilo que eles estão a fazer por Lisboa. Estão a dar vida à cidade. Estou tão absorvida por este momento que me esqueço das dezenas de pessoas que estão à minha volta. Sou abordada por um estranho. Notou-me nesta multidão como alguém que não está ali, está no olhar. Falámos e partilhámos paixões. O Sol está-se a ir embora e eu não quero que vá. Tento mais uma, mais outra, de vários ângulos e diferentes abordagens. Tento dar o meu melhor a Lisboa.
Não tinha dinheiro comigo para comprar um saco de castanhas. Fiquei dividida entre fotografar e ir ao banco para agradecer a disponibilidade destas duas pessoas. Continuei a fotografar e mais tarde lá irei buscar o dinheiro para as castanhas poder comprar. Por breves momentos, ouço alguém a pedir informações em Inglês ao senhor das castanhas. Ele não entende. Eu entendo, afinal sinto-em guardiã da minha cidade e quero bem receber todos aqueles que até nós venham. A pergunta é muito incomum – Onde posso apanhar o barco para ir até Inglaterra? Fiquei com os ouvidos em bico, afinal nunca ouvi falar de tal coisa. Dei-lhe algumas indicações, alternativas e continuámos a conversar. No final, como forma de agradecimento, ofereceu-me um saquinho de castanhas. As tais, do casal que estava a fotografar e que não tinha trocado para comprar. Foi neste momento que senti as sincronias que o universo nos traz. Quem dá de coração, acaba mais cedo ou mais tarde por receber. E eu, que inesperadamente quis ajudar, consegui mesmo sem dinheiro as quentinhas comprar.
Locais presentes no artigo:
Eléctrico_História / Museu Carris
Texto escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico